A importância da gestão dos dados pessoais em ambiente virtual foi o centro do debate no encontro Mulheres da Governança, ocorrido nesta semana no canal da Rede Governança Brasil (RGB) no YouTube.
Karolyne Utomi, integrante do Comitê de Governança em Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), advogada e ativistas dos direitos digitais e igualdade racial, alertou para a necessidade de sigilo e governança das informações pessoais que circulam nas redes.
“É muito comum a pessoa dizer que, por não ter bens ou dinheiro, não há nada de errado em ter seus dados expostos nas redes. Porém, é preciso alertar que essa pessoa pode ter sua identidade fraudada e ser excluída de iniciativas”, alertou Karolyne.
A advogada defende a necessidade de educação para gestão dos dados e informações privadas na internet e também para a transformação na postura dos cidadãos no mundo virtual. Esse seriam os melhores caminhos para aplicação da LGPD.
“As pessoas acham que algumas situações passaram a existir por causa da internet, mas estão erradas... Sempre aconteceu, mas agora temos acesso. Antes, as pessoas não conseguiam acessar”, explicou.
Para a mediadora do encontro, Vládia Pompeu, adjunta da Advocacia-Geral da União e uma das coordenadoras do Comitê Anticorrupção e Compliance da RGB, as redes sociais são parte do extrato social.
“Ali é a sociedade visível que você pode acessar. O que acontece na rua você consegue viabilizar ali. E também consegue voltar, rever, acelerar e cancelar. As pessoas se incomodam porque não querem enxergar o outro”, disse Pompeu.
A orientação de Karlyne Utomi é o investimento em educação digital para garantia da governança nos setores públicos e privados. “Internet e tecnologia são importantes para nosso desenvolvimento, mas precisamos saber usar. Foi o que percebi depois que me especializei em segurança de dados. No mundo digital estamos sempre encontrando pessoas. Consigo enxergar o mundo além de mim e isso me faz querer me tornar um ser humano melhor e gerar uma construção pra sociedade. Foi assim que começou minha luta pela diversidade, educação e inclusão digital, por exemplo”, destacou.
Governança
As advogadas relembraram a importância do exercício da liderança e integridade para a governança. Esses ativos intangíveis permeiam tanto a LGPD quanto o Decreto Federal nº 9.203/2017, que dispõe sobre a política de governança do Poder Executivo Federal.
“Precisamos romper a bolha da advocacia. O próprio decreto da governança traz para a sociedade a necessidade de liderança e integridade. A lei sozinha não faz nada se não tiver um comportamento associado. Há exigências de mudança comportamental pela própria lei. Essa é a fase inicial essencial para promoção da cultura de governança que precisa ser consolidada dentro do nosso país”, pontuou karolyne.
Um dos pontos debatidos para essa efetividade da governança é a implementação de uma cultura de prevenção. “A lei da privacidade de dados traz isso. Ela aponta caminhos para esse tratamento dos dados pessoais. Parece pouco, mas esse é um mecanismo muito eficaz tanto para o bem quanto para o mal, se negligenciado. Na Segunda Guerra (1939-1945) o uso de dados pessoais demonstrou-se catastrófico, por exemplo”, enfatizou a advogada.
A governança da informação foi apontada como outro caminho essencial. Nesse caso as empresas precisam buscar um tratamento adequado dos dados pessoais para não desencadear prejuízo as pessoas. O recente vazamento de dados de 8,4 bilhões de senhas pessoais, chamado de RokYou2021, foi um exemplo da urgência da consolidação desta nova cultura.
“Os dados pessoais permitem que a empresa possa prever o futuro de uma pessoa, manipular escolhas e aferir lucros. É uma informação que define estratégias e controle. É um grande risco se seguirmos sem governança digital”, orientou Utomi.
Liderança feminina
As transformações na atitude das mulheres para o exercício da liderança também foram debatidas. Vládia Pompeu relembrou a necessidade da mulher exercer esse papel para a garantia da governança.
As formas de liderança feminina também foram debatidas. “Precisamos aceitar a nossa característica de liderança, que é diferente. E precisamos respeitar isso. Mulher líder não é só representatividade. É preciso respeitar os seus momentos. Sempre busco ver o lado positivo de tudo. Mas precisamos respeitar o limite e nos colocarmos em uma posição”, afirmou a advogada.
“Tivemos época em que a mulher ou era super sexualizada ou um agente de apoio. Depois a mulher foi colocada no lugar de líder, mas apenas como guerreira. Sem igualdade, mas sim para aguentar tudo que ela fazia e também ser líder. Quando aceitamos isso ratificamos muitas questões que prejudicam a mulher. Como se esquecer da gravidez. Não podemos romantizar a mulher guerreira e esquecer que ela é um ser humano”, finalizou Karolyne.
O encontro foi realizado na última segunda-feira (5), na plataforma do Youtube da RGB. A série mulheres pela governança vai até o final do ano e terá mais edições. Para acessar o debate acesse aqui.
Da Assessoria de Imprensa RGB
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